Final do verão de 2014. A leve e sempre fria brisa princesina já percorria os galhos das árvores anunciando o outono.
Mais uma caminhada de final de tarde. Tênis novo, shorts curtos, a camiseta ainda era de algodão. Cada volta no parque parecia infinita. Voltas e revoltas que não levavam a lugar nenhum.
Alguns jovens conversavam sentados no gramado, outros faziam manobras com seus skates, muita gente jogando vôlei, futebol, basquete. Uns passavam por mim caminhando e outros, ah aqueles outros, esses passavam por mim correndo!
E por entre a voz de Plant em "Stairway to Heaven", eu ouvia passos fortes que surgiam ao meu lado de minutos em minutos. Vinham, passavam e partiam. Vinham, passavam e partiam. Era nítida a sensação do ar sendo deslocado ao meu lado a cada vez que um corredor me ultrapassava.
Aumentando o ritmo da minha caminhada, decidi averiguar se meus passos também poderiam ser fortes como aqueles. Decidi experimentar se o ar também seria deslocado enquanto eu me movimentasse.
Nos ouvidos e nos neurônios agora tocava "Immigrant Song". A voz de Plant parecia me empurrar para o fim do mundo. Comecei a correr com a estranha sensação de que estava sendo observada, analisada, talvez até, sendo provada. Alguns segundos depois e os passos foram ficando mais rápidos e o parque cada vez parecia menor.
Um misto de cansaço, vergonha, curiosidade, sensação de morte e euforia instalaram-se rapidamente. Parei. Caminhei. Tentei novamente.
Esse, foi o dia em que comecei a correr.
Esse, foi o dia em que pela primeira vez, também desloquei o ar ao lado das pessoas que passei.
Esse foi o dia em que pela primeira vez, eu fui vento.
Luciane Maria Ricetti Favero
Casada, 2 filhos, 43 anos
Fundadora em 2014, do Grupo de Corrida Feminino Penélopes PG, na cidade de Ponta Grossa/PR - que hoje conta com mais de 200 mulheres.