Nunca imaginamos que hoje estaríamos passando por uma crise dessa magnitude mundial, que abalaria nossas vidas de uma forma tão intensa. Na realidade, na história da humanidade tivemos capítulos de epidemias e catástrofes e, talvez, no futuro, ainda teremos outras páginas que possivelmente abalarão nossas estruturas. Porém, o ano de 2020 começou com grandes expectativas em todos os âmbitos, econômicos, tecnológicos, científicos. E de repente nos vimos em um momento único, no qual um mix de sentimentos como pânico e perplexidade nos deixaram incertos em relação ao amanhã, colocando não apenas nossas rotinas em jogo, mas também nosso caráter e nosso jeito de agir e pensar.
Vivemos em um mundo onde o consumo desenfreado justifica toda e qualquer intervenção e exploração à natureza e aos seres que nela habitam. As alterações climáticas alcançaram seus maiores índices de toda a história humana e, mesmo assim, apesar da tentativa por parte de cientistas e ambientalistas em tentar escancarar o problema frente às organizações e governos, os países ainda se recusam a desacelerar o ritmo.
O resultado disso? Queimadas, secas, inundações, poluição de rios e mares, degelos, exploração desenfreada de minérios e as suas consequências na fauna e flora, entre outros tantos exemplos que só provam que o ser humano tem a busca pelo lucro como seu grande sentido de vida.
O Covid-19 provou não ser um vírus qualquer. Não apenas pela sua altíssima capacidade de contaminação e consequências à saúde humana e seus impactos em todos os âmbitos da sociedade, mas por se tratar de um fenômeno que abalou qualquer certeza que o ser humano tinha até o momento. Megalópoles que até poucos meses atrás seguiam seu ritmo sistêmico de funcionamento sob o êxtase da produtividade, de repente se viram obrigadas a fechar fronteiras, parar as produções, encerrar as atividades, obrigar o isolamento social, sem previsões de retomada à sua “normalidade”.
Este ser microscópico colocou o ser humano à prova, expondo seu individualismo e egocentrismo, à flor da pele, diante de um contexto onde privações do direito de ir e vir, escassez de recursos e sistemas, bombardeamento de informações de toda e qualquer qualidade, ruas desertas, isolamento social e incertezas sobre o amanhã certamente farão parte das nossas vidas nos próximos dias, talvez meses.
E neste fervor, somos impulsionados ainda mais a recorrer ao pensamento individualista, de sobrevivência, o olhar para si mesmo sob a ótica do salve-se quem puder e em contrapartida sofremos as duras penas desse pensamento/sistema moderno, expondo os mais vulneráveis, varrendo estabelecimentos ao estocar de forma irracional produtos de higiene e alimentos, ou aproveitando o momento como forma "visionária" de superfaturar essas mercadorias, impossibilitando a outros que necessitam dos mesmos produtos.
Em tempos de pandemia conseguimos ver o que há de melhor e também o que há de pior no ser humano.
Mas o que a arte marcial tem a ver com tudo isso? Já parou para pensar em quantas vezes você aplicou o que aprendeu na arte marcial que você pratica? Será que este não é o momento de realmente olharmos para tudo isso que aprendemos nos tatames e aplicarmos na vida real? Será que nosso treino de artes marciais só se aplica quando estamos dentro dos tatames? Reflita.
A Arte Marcial é um caminho individual, logo as respostas para todas essas questões devem ser refletidas, interiorizadas e exteriorizadas da forma que cada um acredita. Mas uma coisa é certa dizer, arte marcial não se limita a saber como se defender ou lutar, mas sim formar pessoas que constantemente buscam pela evolução individual e de todos a sua volta, pelo respeito ao próximo, a si mesmo, à vida e pela justiça. E esse deve ser nosso treino, dentro e fora dos tatames, seja qual for a intempérie, o contexto ou a dificuldade.
Artur Tonetto - @arturtonetto_hkd | @dojangmooca
Designer Industrial, empreendedor e ajudo a desenvolver pessoas através da arte marcial.
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